Estímulos intelectuais

Como seres morais, possuímos um intelecto ativo, que possui a necessidade, ou ao menos uma tendência, ao estímulo intelectual. Estamos constantemente buscando tais estímulos.

Há inúmeras formas pelas quais podemos estimular nosso intelecto, desde o estudo, consumo de ficção, jogos, etc. Hoje falaremos sobre o consumo de ficção.

Seria a ficção um bom estímulo intelectual?

Quando nos envolvemos em um mundo de ficção, vivemos uma realidade que não existe, e isso pode ser bom e ruim.

É bom, pois nos permite vivenciarmos experiências que não vivemos, sentir através daquilo que não aconteceu conosco, é um exercício de empatia, e muitas vezes pode nos ensinar mais sobre nós mesmos; assim como algumas das características de David Copperfield, ou alguns sentimentos Andrei Bolkonsky, me mostraram algo sobre minhas próprias características e sentimentos.

A ficção também é uma forma de abrir a mente, pois o autor pode levantar questões que talvez não levantaríamos nós mesmos, e com isso passamos a enxergar algo com uma nova perspectiva.

O lado ruim, no entanto, é que se trata de uma experiência irreal, e o autor pode tendenciar nossos sentimentos da forma que bem entender. A ficção é um monólogo, os argumentos apresentados serão aqueles que o autor julgar representar melhor o sentimento que ele intenciona para seu público.

Assim como autores podem nos fazer enxergar por novas perspectivas, eles também podem perverter algumas dessas perspectivas em sua narrativa e nos transmitir valores, que em seu mundo fictício podem até serem reais, mas que na realidade são falsos. Já ouvi pessoas defendendo o assassinato cometido pelo Raskolnikov no livro Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski (não que Dostoiévski o tenha feito).

É importante entender sobre o autor, a obra, o contexto em que foi escrito, as ideias defendidas e as influências que levaram o autor a defendê-las. Dessa forma a leitura nos será menos perigosa, poderemos deixar que o autor no guie por uma nova experiência em seu mundo literário, porém estaremos mais preparados contra devaneios românticos ou fanatismos idealísticos.

E quanto a filmes?

Assim como livros de ficção, filmes conseguem nos levar a “experienciar” coisas novas e nos proporcionar novas perspectivas, mas há duas grandes diferenças entre ficções literárias e cinematográficas que eu gostaria de destacar.

A primeira delas é a própria natureza do conteúdo, por mais que às duas sejam ficções, o filme, diferente de um livro, tem um escopo maior do que só a narrativa em si. Não sou nenhum conhecedor de cinema, mas consigo perceber algumas competências envolvidas em um filme que não estão presentes em um livro, como filmagem, iluminação, música, cenário, enfim; em um filme, a emoção, a reflexão, o estímulo intelectual em si, é alcançado através de diferentes recursos que não só a narrativa, e isso se reflete em como a estória é contata.
Uma narrativa de guerra, por exemplo, em um livro a representação será consideravelmente menor do que a de um filme, pois em um filme será dado foco para as cenas de ações, detalhes de confrontos, onde haverá um zoom in em confrontos específicos dos personagens principais, um zoom out da batalha como um todo, enfim, uma cena de guerra gera muito mais conteúdo para um filme do que para um livro, ainda que a narrativa seja a mesma.

A segunda é o esforço exigido para o consumo da ficção, um filme exige menos esforço para ser consumido do que um livro, o que os tornam muito atraentes para saciar nossa tendência ao estímulo mental. Essa facilidade, no entanto, pode ser perigosa, pois pode nos levar a excessos, nos fazendo consumir esse tipo de conteúdo por horas a fio, gastando nossa energia intelectual, energia que muitas vezes poderia ser aplicada em algo mais produtivo, que nos leve para mais perto dos nossos objetivos.

Filmes podem nos trazer aprendizados, reflexões, ou até mesmo um relaxamento depois de um dia complicado, mas é importante consumi-los de forma moderada, pois a facilidade do seu consumo pode nos levar a excessos. Um método que considero interessante é setar, previamente, um limite de tempo que se considere saudável para consumo de filmes, e se esforçar para não passar desse limite.

Não penso que deveríamos setar limites apenas para filmes, acredito que livros também podem ser consumidos de forma excessiva, assim como qualquer outro tipo de conteúdo, o ponto é que filmes, assim como qualquer outro conteúdo audiovisual, como redes sociais, vídeos, programas de TV, etc., são mais propícios a consumos excessivos, por exigirem menos esforço para serem consumidos.

Conclusão

Penso que ficção é um bom estímulo intelectual, mas que precisa ser consumido com cuidado. Precisamos entender sobre o autor e as ideias defendidas, e estar atento as distorções da realidade.

É importante setarmos limites para qualquer estímulo intelectual, e isso se aplica também ao consumo de ficção, entretanto o limite saudável vai depender de cada um, da rotina e objetivos de cada pessoa individualmente.

Lembre-se, para cada hora que passamos em uma atividade, há uma infinidade de outras atividades que deixamos de fazer. Precisamos ter sabedoria e usarmos bem nosso tempo, de forma que nos tornemos cada dia melhores versões de nós mesmos.

Life is long if you know how to use it.

Seneca, On the Shortness of Life

Multiplicando o potencial humano

O ser humano possui um alto potencial criativo, lidamos com problemas de forma inteligente, criando soluções que facilitam e melhoram nossa vida. Mas para conseguirmos dar soluções inteligentes para problemas complexos, precisamos não só de criatividade, mas também de informações e conhecimentos — que serão a base do processo criativo — essa sempre foi a parte mais complexa da equação, adquirir as informações e os conhecimentos necessários para a resolução de problemas difíceis.

Em Sabedoria prática eu falei um pouco sobre o impacto que algumas inovações podem ter na nossa forma de enxergar e interagir com o mundo. O computador pessoal e a internet são algumas dessas tecnologias que podemos chamar de divisor de águas, principalmente quando considerado o aumento da nossa capacidade criativa.

“Biblioteca” dentro do bolso

Consideremos um equipamento futuro para uso individual, que é um tipo de arquivo e biblioteca privados e mecanizados. …um aparelho no qual um indivíduo guarda todos os seus livros, registros e comunicações, e que é mecanizado de forma a poder ser consultado com grande velocidade e flexibilidade. É um suplemento íntimo ampliado de sua memória.

Vannevar Bush em As We May Think [Como podemos pensar]

Vannevar Bush, em 1945, vislumbrou o potencial de indivíduos possuírem uma biblioteca privada onde poderiam acessar diversos tipos de informações com rapidez e flexibilidade. Isso em uma época em que para você ter acesso a diferentes tipos de conteúdo literários você teria que, ou ser uma pessoa tão rica a ponto ter uma ampla biblioteca particular, ou teria que se deslocar até uma biblioteca compartilhada; em ambos os casos o processo intelectual criativo sofria atrito, pois após ter os livros em mãos, ainda haveria todo o processo de busca manual para obter as informações de interesse.

Em 1945 sonhava-se com uma forma de podermos armazenar e acessar informações de forma rápida e flexível, aumentando consideravelmente o potencial intelectual criativo do ser humano.
Hoje tal mecanismo se encontra à nossa disposição, podemos acessar praticamente qualquer informação que precisarmos diretamente dos nossos celulares. Possuímos a possibilidade de aprender quase que sobre qualquer assunto, em qualquer lugar que estivermos, desde que tenhamos internet no nosso smartphone. Isso nos dá a oportunidade de abordamos os problemas com uma gama de conhecimento sem precedentes, nos permitindo cruzar informações e conhecimentos, gerando assim resultados mais criativos e impactantes.

Compartilhamento e colaboração

As grandes inovações, as que exercem maior impacto em nossas vidas, geralmente são aquelas criadas em cima de inovações anteriores a elas. Inovações que combinam conhecimentos e descobertas, muitas vezes de áreas distintas do saber, que se complementam e assim surge uma nova forma de resolver um problema.

A oportunidade de compartilhamento que a internet nos trouxe é um potencializador incrível da nossa capacidade criativa. Quando olhamos para as grandes inovações do passado, vemos inovadores “solitários”, pessoas que trabalharam sozinhas a maior parte do tempo. Já as grandes invenções das últimas décadas se dá, não por um inventor solitário, mas por um grupo de pessoas, com diferentes expertises, cada um construindo em cima do trabalho uns dos outros, colaborando e alcançando juntos a inovação.

Quando pensamos no fato de cada ser humano ser diferente uns dos outros, com qualidades e interesses próprios, e que nem sempre as pessoas mais próximas fisicamente de nós compartilham das mesmas paixões, ou possuem qualidades complementares as nossas, vemos ainda mais o quanto a internet aumentou nossa capacidade criativa, pois temos a possibilidade de nos conectarmos com pessoas de praticamente qualquer lugar do mundo. A possibilidade de nos juntar a grupos que partilham dos mesmos interesses que nós, e contribuirmos para algo que acreditamos gerar valor.
Mesmo quando não trabalhamos diretamente com essas pessoas, a internet expande a possibilidade de conhecermos sobre um projeto que está sendo feito no outro lado do mundo, trocar ideias com as pessoas que estão à frente do mesmo, e começar algo semelhante no nosso próprio bairro ou cidade.

Nem tudo são flores…

Tecnologias como a internet e computadores pessoais também têm prejudicado nossa capacidade criativa. O quanto conseguimos aprender e criar depende da nossa capacidade de concentração, foco é fundamental para a compreensão de assuntos complexos e para a produção de um trabalho criativo de qualidade, e hoje, com a internet, somos bombardeados de estímulos o tempo todo, atrofiando nossa habilidade de concentração. Vivemos em um momento da história em que a distração se tornou a regra, e não mais exceção.

O consumo excessivo de portais de notícias e redes sociais também tem drenado horas de nossas vidas, horas que muitas vezes poderiam ser utilizadas em atividades mais alinhadas com nossos objetivos e sonhos, mais alinhadas com nosso potencial criativo.

Conclusão

Vivemos em um momento impar da história, onde temos acesso, quase totalmente democratizado, a informação em seus múltiplos formatos (vídeos, podcasts, documentários, etc.), e disponibilizamos de excelentes ferramentas de colaboração, pelas quais podemos aprender e ensinar, engajar e trabalhar juntos naquilo que nos interessamos.

Vivemos em um ambiente oportuno para o desenvolvimento e inovação. Mas também em um cenário onde a distração e falta de foco se tornou o padrão para a maioria das pessoas.

O computador pessoal e a internet nos dão uma enorme capacidade de aumentar nosso impacto, de aprender, ensinar, contribuir e construir, mas para isso temos que ser propositivos, temos que saber onde queremos chegar, que tipo de pessoa queremos ser, qual marca queremos deixar no mundo, e assim usar tais ferramentas como impulsionadoras da nossa capacidade.

A informação e as ferramentas para crescermos como pessoas — e termos nosso impacto — estão a nossa disposição, cabe a nós as usarmos da melhor forma que pudermos.

Sabedoria prática

Muitas vezes vemos a sabedoria como o acúmulo de conhecimento, formamos a imagem mental do sábio em sua torre de marfim, lendo livros e mais livros. Assumimos que assim se constrói a sabedoria, mas essa é uma ideia errada, pelo menos ao se tratar de sabedoria humana.

A sabedoria não é algo estático, mas algo que se vive diariamente. A sabedoria é prática, tem de ajudar nas decisões que fazemos constantemente em nossa vida, nossos relacionamentos, nossos valores morais, em nossa vida prática.

O computador, mesmo possuindo acesso a praticamente todas as informações do mundo, não é considerado um sábio, pois por mais que ele tenha acesso a todo esse conhecimento, ele não sabe realmente do que se trata toda essa informação, ele a conhece, mas não a entende.

O mesmo se dá com o “sábio” da torre de marfim, por mais que ele tenha lido todos os livros do mundo (o que é impossível) e tenha muita informação, se ele não está vivendo o dia a dia, ele não conseguirá vislumbrar a aplicação de todo esse conhecimento, e jamais conseguirá compreendê-los em sua totalidade.

O estereótipo do filósofo da torre de marfim é uma ideia da idade média, porém é bem diferente da experiência filosófica grega por exemplo. 
Os filósofos gregos eram pessoas ativas, que se engajavam na vida prática, sua filosofia fazia parte de sua vida; seus valores e ideias só eram valiosos pois impactavam diretamente na forma que eles viam e interagiam com o mundo, na forma como tocavam suas próprias vidas e sociedade.

O conhecimento aplicado impacta a experiência humana

Há algumas inovações que resultam em uma mudança substancial na forma como as pessoas vivem e enxergam o mundo, muitas vezes nos esquecemos disso e tendemos a pensar que o mundo foi sempre assim.

Ao olharmos, por exemplo, para a cidade de São Paulo em pleno século 21, há uma abundância que nunca houve na história, podemos ir em um supermercado e encontrar variedades de alimentos em grandes quantidades. Essa é uma realidade proporcionada por diversas pequenas inovações, que juntas fizeram uma enorme diferença.

Olhando mais especificamente para inovações no campo tecnológico, há tecnologias tão revolucionárias, que estão tão inseridas na nossa vida atualmente, que até esquecemos que são invenções humanas do último século, como a internet.

O impacto que uma tecnologia como a internet tem na vida das pessoas é imenso. Hoje através da internet conseguimos nos comunicar com pessoas em diversos lugares do mundo, aprender basicamente sobre qualquer assunto, participar, remotamente, de momentos especiais como o nascimento de um neto, mesmo em um momento de pandemia onde há restrições de viagens, enfim, a internet abriu uma infinidade de oportunidades para a humanidade, e muitas das inovações que vieram depois dela só aconteceram por meio da colaboração entre pessoas de diferentes localidades que a mesma proporcionou.

Eu poderia me estender ainda mais sobre o impacto da internet ou outras inovações tecnológicas, mas esse não é o assunto desse texto, meu ponto é mostrar que as inovações desempenham grande impacto na vida humana, na nossa forma de ver e interagir com o mundo.

Inovações trazem novas perguntas e desafios

As inovações e novos paradigmas que as acompanham, também trazem seus próprios desafios, dilemas éticos e sociais que precisam ser gerenciados. Um exemplo é o próprio conceito de linha de montagem e especialização do trabalhador, que se provou uma forma eficiente de se construir coisas, mas, ao mesmo tempo acrescentou o problema da superespecialização profissional. Quando há uma superfragmentação do trabalho, o interesse do indivíduo em executar tal atividade é destruído, fazendo com que o trabalho deixe de ser prazeroso.

Não podemos esperar que filósofos e sábios do passado respondam essas novas questões que surgem com a inovação, eles não vivenciaram tais mudanças para poder opinar. Cabe a nós, munido de toda a sabedoria nos legada por tais pessoas, resolvermos nossos próprios problemas, com sabedoria e discernimento.

É nosso papel, em um mundo de assistentes virtuais, inteligência artificial, robôs inteligentes, reinterpretar ideias como a de Descartes. Ele não viveu para ver os avanços da tecnologia que nós temos hoje, será que suas ideias sobre robôs e consciência ainda cabem no mundo de hoje? Talvez sim, talvez não, cabe a nós nos questionarmos.

Toda grande mente que nos legou conhecimento e sabedoria viveu em uma época e contexto específico. Tais conhecimentos precisam ser avaliados no nosso contexto atual, frente aos avanços e descobertas que vieram depois deles. É claro que há muito nesses ensinamentos que seja atemporal, mas mesmo nesses, há aplicações práticas que possam precisar de pequenas adaptações.

Conclusão

O extremo de se perder a perspectiva filosófica e histórica, vivendo na “bolha” do nosso próprio tempo, focados no trabalho, acúmulo financeiro, descobertas científicas e satisfação dos prazeres, deixando totalmente de lado a busca da sabedoria, é perigoso, pois não poderemos compreender plenamente nosso próprio momento histórico se não tivemos um panorama da jornada que nos trouxe aqui. Se não estudarmos as ideias de grandes mentes que vieram antes de nós e o contexto histórico em que as mesmas foram concebidas, poderemos cometer erros já cometidos no passado, ou até piores. Aprender com nossa própria história é sinal de inteligência, e também uma forma eficiente de se viver.

Já o extremo da alienação causada pela filosofia da torre de marfim, deixando de compreender minimamente o contexto social, científico, político e religioso do nosso próprio tempo, também é perigoso. A sabedoria é prática, ela se manifesta em um tempo e espaço, se manifesta na nossa vida, nas escolhas que fazemos, nos nossos relacionamentos, na forma como interagimos com o mundo.

Temos que buscar o equilíbrio entre a busca da sabedoria, aprendendo com a história e as grandes mentes que viveram antes de nós, mas sem nos alienarmos da nossa experiência humana, dos prazeres e dificuldades atuais, do que nossa própria época tem para nos oferecer, os desafios e dificuldades que temos de enfrentar.

Devemos construir um novo futuro com sabedoria.

A vida comum

A grandeza está no coração do homem, buscamos a grandeza, queremos viver uma grande vida, vivemos apenas uma vez e queremos que essa seja a melhor vida que pudermos viver.

Essa ideia de grandeza, também tem estado a muito tempo em minha mente, venho buscado ser o “melhor” que eu posso, em querer conquistar coisas que me farão grande, em me destacar, em não viver uma vida “comum”.

Mas assistindo alguns filmes como About Time e Yesterday, passei a refletir sobre esse enfoque da vida comum, de que muitas vezes uma vida “ordinária” é a vida mais fantástica que podemos viver.

O que constitui uma vida “grande” e uma vida “ordinária”?

Algo grande se diferencia de algo ordinário pelo fato de não ser algo comum, de ser especial, de algo que o diferencia das outras, que não é facilmente substituído, que possui um valor sem igual, um valor único.

Olhando por esse ponto de vista, podemos afirmar que todas as vidas são grandes, que não há vidas ordinárias, pois cada vida conterá sua própria parcela de individualidade. Cada um veio de lugares diferentes e com histórias diferentes, o que faz com que todas as vidas sejam únicas.

Mas para que consigamos continuar em nossa reflexão, vamos dizer que uma vida ordinária seja aquela que a maioria poderia viver, sem destaque. O problema com essa abordagem é que o que conseguimos perceber como destaque, sempre estará relacionado a fatores externos ao próprio ato de viver, julgaremos aquilo que conseguimos ver, e muitas vezes iremos usar as medidas erradas para medir a grandeza da vida.

Por muito tempo nós julgamos como uma pessoa de destaque aquelas as quais possui uma boa notoriedade pública, fama; e aquelas que possui posses financeiras, pessoas ricas. Esses são parâmetros quantitativos, e por isso são mais “fáceis” de avaliar, o problema é que nós já sabemos – através de muitos exemplos – de esses não são bons parâmetros para se julgar uma “grande vida”, pois muitas pessoas com fama e bens materiais muitas vezes vivem uma vida “miserável”, no sentido de uma vida triste, solitária, deprimente. Então, por mais que tais pessoas conseguiram grandes realizações, não me parecem estar vivendo uma grande vida, no sentido que falamos acima, de ser a melhor vida que podemos viver.

Quando olhamos para a filosofia clássica grega, e seu estudo da ética (ética no sentido original da palavra, que seria algo como “a arte de viver”), vemos parâmetros bem diferentes para determinar o que seria a boa vida.

Naquela época já era o senso comum buscar a grandeza na fama (ou honra) e posses financeiras, entretanto para os filósofos esses não pareciam bons parâmetros para se julgar uma “boa” vida.

Para os filósofos como Aristóteles, Platão e Sócrates, a boa vida seria aquela vivida virtuosamente, aquela em que se abria mão de prazeres vulgares para desenvolver virtudes, uma vida guiada pela razão e não pela emoção/prazeres.

Definir a própria grandeza

Como falamos acima, a busca da grandeza faz parte do ser humano, queremos viver nossa vida da melhor maneira que pudermos. O problema é que se não tivermos clareza no que realmente queremos como pessoas, vamos acabar interpretando como grandeza as qualidades quantitativas externas, que serão mais fáceis de julgar, como riqueza e fama.

Ao não ter claro o que significa a grandeza para nós, o que realmente queremos como pessoa, entraremos na ansiedade do materialismo, sempre querendo mais e mais, nunca estando satisfeitos, e sempre pensando que com a próxima conquista, seja ela uma promoção, um melhor físico, uma casa, ou até uma ilha, nós nos sentiremos felizes, realizados, nos sentiremos grandes.

Mas a verdade é que nenhuma conquista nos trará realização se ela não estiver alinhada com nosso senso mais íntimo e pessoal do que é a grandeza para nós, aquilo que aquece nossos corações.

A grandeza na vida comum

Assim como há muitas pessoas ricas e famosas que não são grandes, há muitas pessoas que são grandes, mas sem terem alcançado fama e riqueza, são pessoas que atingiram a excelência como pais, como pensadores independentes, pessoas que são excelentes em apoiar outras pessoas com problemas, pessoas que aprenderam lidar com as adversidades da vida e tirar o melhor que podem de cada uma delas, enfim, a vida é tão complexa e há inúmeras maneiras de se desenvolver e alcançar a grandeza.
Muitas vezes, não há fama ou riqueza por trás dessas conquistas, mas há mais do que isso, há o pertencimento, o contentamento, há a felicidade.

Conclusão

O que é grandeza para você? Que áreas da sua vida você vê oportunidades para masterizar? Você quer ser um melhor pai, uma melhor mãe? Quer ser um bom amigo com uma boa inteligência emocional e palavras de conforto para quem precisa? Quer conquistar a liderança de sua família e levá-los a desenvolverem a grandeza individual de cada um? Enfim, não importa qual seja a grandeza que esteja buscando, o importante é perceber que o sucesso é individual, ele pode ou não estar relacionado com visibilidade externa. O mais importante é não tomarmos os sonhos de outros, os sonhos das massas, como nossos.

Somos únicos, nossa grandeza é única, e não só pode como há sim grandeza na vida “comum”!

Hospitalidade para os viajantes cansados

Quando eu leio livros de aventura como O Hobbit e Senhor dos Anéis do Tolkien, ou até aventuras mais antigas como a dos Argonautas, ao ver os heróis passando por situações difíceis, caminhando por longos períodos, debaixo de chuva e de sol, andando em meio a alta vegetação, na lama, sobre montanhas, enfrentando privações de água e comida; fico imaginando o desconforto deles.

Geralmente lemos essas histórias no conforto da nossa casa, em um dia frio, porém aquecidos por nossos cobertores, sentados em nossas poltronas. Por vezes me pego imaginando quão difícil seria se fosse eu que estivesse caminhando lá fora, na chuva, sujo e cansado; consigo sentir um pouquinho do desconforto da situação.

Para mim é um alívio quando chegam em um momento da jornada em que, já exauridos de todo o vigor físico e mental, encontram uma casa amiga, um lugar onde são bem recebidos e alimentados, onde encontram água quente para poderem se limpar, tirar a roupa molhada e terem um momento de paz e tranquilidade, um momento em que encontram descanso para seus pés cansados e comida para seus corpos famintos. Se para mim – o leitor – que se encontra em uma situação confortável, é um alívio, quanto mais para esses aventureiros ?

Nessas histórias, essa hospitalidade de uma casa amiga, geralmente aparece no momento em que os viajantes mais precisam, onde seus suprimentos já acabaram a dias; e quão trágico seria se nesse momento eles não encontrassem esse porto seguro, se não encontrassem essa casa onde podem recarregar suas energias para continuar sua jornada.

Consigo ver um paralelo dessa situação e a vida propriamente dita. Há diversas pessoas que estão cansadas em sua jornada, com os pés doloridos de tanto andar, sem “água e comida” a muitos dias, totalmente sobrecarregados com as dificuldades dessa jornada que chamamos vida. Essas pessoas, assim como os aventureiros das histórias, precisam urgentemente de um lugar hospitaleiro, uma palavra de conforto para curar seus corações feridos, um conselho encorajador para repousarem suas esperanças. Precisam recarregar suas energias e também de suprimentos para continuarem sua jornada, em algumas das vezes o que precisam é de companhia para caminhar com eles por algumas milhas, sendo auxílio na necessidade.

Assim como nessas histórias seria trágico se os viajantes não encontrassem um lugar onde pudessem se recuperar da difícil jornada, também será trágico se na jornada da vida, as pessoas que estão necessitando de descanso não encontrarem um conforto no momento que precisam.

Entretanto, assim como nos contos, a hospitalidade só poderá vir de pessoas que estão preparadas para isso, de pessoas que possuem “alimento e água”, que possuam uma casa que possa abrir e dar um pouco de conforto para os viajantes. Pessoas que estão preparadas, que buscam suprir sua vida com palavras de sabedoria, de amor, de carinho; que conseguirão dar ânimo para os caminhantes cansados deste mundo.

Por esse motivo é importante, diariamente, buscarmos crescer como seres humanos, buscarmos aprender, sermos mais amorosos, humildes, caridosos, para que ao encontrar uma alma cansada possamos ser abrigo, possamos trazer alento para seus corações.

Coloquemos então o desejo no nosso coração de ser essa casa amiga para os viajantes desta vida, que sejamos “comida e água quente (para se lavarem)” para que se recuperem da difícil jornada.